quarta-feira, 23 de setembro de 2009

TUDE DE SOUSA

Tude Martins de Sousa, nasceu pobre, muito pobre, em 1874, na freguesia  de Amieira, no Concelho de Nisa. Alentejano, portanto, terras de calor e habituadas à solidão e ao silêncio.
Apadrinhado por uma família rica e nobre de sobrenome Maggessi, a eles lhes ficaria eternamente em dívida por ter conseguido matricular-se na então Escola Agrícola de Coimbra.
Sendo o seu percurso biográfico um pouco mais preenchido e complexo que aquilo que aqui pareço fazer parecer, importa essencialmente que em Setembro de 1904, após Concurso Documental Público foi nomeado Regente Florestal dos Serviços de Arborização da Serra do Gerês, com o objectivo de proteger e desenvolver a floresta e disciplinar a actividade agro-pastoril da população local.
Em 1915 foi dirigir a Colónia Penal Agrícola de Sintra, onde também deixou a sua marca.

Haverá, segundo consta, uma vasta bibliografia a que este homem também se dedicou, mas as citações fazem parte da Introdução - a cargo de alguém não identificado da Câmara Municipal de Terras de Bouro- do livro "Serra do Gerez: estudos- aspectos- paisagens" de Tude Martins de Sousa, numa edição ,impressa por fotocópia do que era a edição original ilustrada da Livraria Chardron, de Lello & Irmão-

Interessa, pois, reter algumas da palavras por ele escritas nesta pequena monografia do Gerês, onde se estendeu muito para lá das árvores ou da floresta. Interessa-nos a paisagem e a árvore que nela se insere. E, o Gerês, é sem dúvida Local das paisagens mais belas de Portugal, mormente se essa paisagem contiver as árvores.
"A floresta tem, pois, de ser considerada como de não menor importancia, sob o duplo ponto de vista do seu papel, como agente creador e modificador do meio e do clima, influindo decisivamente nas temperaturas e no grau de humidade, no regimen das chuvas e na fixação e conservação das correntes de água das regiões onde se desenvolve.
Por outro lado, veiu o seu trabalho como fixador das terras movediças, as areias do littoral para valorisar terrenos incultos e incapazes de qualquer outra cultura e a transformação operada na esthetica da área arborizada, que se melhora completamente."(pág.101)

Estas palavras, de tão simples, parecem desnecessárias, como se o segredo afinal já tivesse chegado e nada aqui se diz de novo. Mas o que agora nos falta é a organização, o diálogo com as gentes (pobres e ricos) e o rigor que Tude de Sousa impôs na sua gestão da Serra do Gerês, sem os quais, o Gerês de hoje nunca teria sido possível. A comprová-lo está ainda o espaço de Sintra, outro oásis neste deserto ardido que é o nosso Portugal.

Uma sugestão: A floresta primitiva no território que corresponde hoje ao nosso,  era composta  quase exclusivamente por: Quercus fagínea (carvalho lusitano, cerquinho ou carvalho cerquinho); o  Quercus pyrenaica (o carvalho negral Wild.); e o Quercus robur (carvalho roble ou simplesmente roble),  a norte do Tejo. A sul, os sempre eternos Quercus suber (sobreiro), sendo a restante floresta variada mas não principal.

Reflorestar, e estamos sempre a tempo, dada a intensidade e frequência dos incêndios, pressupõe evitar árvores que ardem com facilidade como as resinosas, ou aquelas que esgotam rapidamente a àgua dos solos como o eucalipto. E se o argumento é o dinheiro da madeira, mais caro e de melhor qualidade é a madeira de qualquer carvalho, sendo que o seu valor paisagístico e integrador de espécies faunísticas é muito mais elevado.


Tude de Sousa foi um homem que faria muito mais falta na actualidade deste Portugal de gente que apenas vê o lucro fácil e não tem uma perspectiva de futuro.

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